LULA MARTINS FALA DA SUA EXPERIÊNCIA COM O CINE ÉDEN
Giuseppe Miraglia foi o fundador do Cine Teatro Éden, cuja fachada de estilo eclético contendo linhas arquitetônicas do neoclássico a da art nuveau tardia no Brasil. Assemelha-se ao do filme "Cinema Paradiso". Este renomado e emblemático filme que narra a história da decadência das salas de cinemas, que, com o advento da televisão transformou-se em depósitos e lojas comerciais. É certo que o nome CINE TEATRO EDEN tem origem no lendário Teatro Éden em Portugal, um esplendoroso teatro que veio tornar-se, no Cine Teatro Éden.
Os italianos e os franceses foram os principais construtores das salas de cinema no Brasil. Os cineteatros eram adaptações dos teatros romanos. Quando José Mota Fernandes e o seu irmão João Mota adquiriram e reformaram o Cine Éden, equipando-o com dois modernos projetores Philips modelo SP56, projeção em Cinemascope de lentes anamórficas e som sistema Todal, o que existia de mais moderno na época. Colei em Marini o técnico da montagem como seu auxiliar. O velho Marini era um sábio visionário que contava muitas histórias sobre discos voadores e da civilização de Marte. Apaixonou por cocadas que um garoto lhe vendia todas as tardes e isto lhe foi fatal! conseguiu uma diarreia que o derrubou, ficando em estado de cama por uma semana no Hotel Glória. Dei-lhe assistência e dias depois, comuniquei que havia terminado a montagem do primeiro projetor e começado a do segundo.
Marini me deu uma bronca, ficou aflito, e eu disse que havia feito as instalações elétricas dos comandos da partida, e montado, a lanterna de arco-voltaico seguindo os manuais. Após uma rigorosa inspeção, convidou-me para fazer um estágio na fábrica da Imbelsa, em São Paulo, e que eu ficaria dando assistência técnica a muitos cinemas dos clientes da empresa em toda América Latina. Meu pai Hermes Martins não quis acordo, Marine então me indicou como operador de projeção, função que assumi por dois anos.
O Cine Éden foi a minha escola de cinema. Ali eu tive a oportunidade de assistir incontáveis filmes de todos os gêneros e qualidades. O saudoso amigo João Mota era o gerente proprietário, Dren pintava os cartazes, trabalhava ali também Pedro Hage, e Jovelito era o meu assistente. Anos depois da falência e encerramento do cinema, de passagem por Ipiaú, uma turma de cinéfilos e interessados pela cultura local, me procurou pedindo para falar com Hildebrando Rezende então prefeito da cidade, da importância do tombamento do Cine Éden. Hildebrando me disse que não poderia atender ao meu pedido, pois estava comprometido com a exigência da Secretaria de Cultura do Estado, cujo secretário era o poeta Capinan, na compra de um circo para eventos mambembes de conscientização política de esquerda. O agente do negócio que, quando me viu chegar à prefeitura para falar com Hildebrando, em minha frente, cheirou uma longa carreira de cocaína e me agrediu com palavras violentas. Eu contra argumentei que não o conhecia nem estava ali para falar com ele e sim com o prefeito. Disse para Hildebrando que o cinema fazia parte da tradição da cidade, e dos problemas que ele poderia ter, já que um circo requeria profissionais qualificados, tinha uma manutenção cara e que em menos de um ano o circo não existiria. Que tal?... Não durou seis meses. Dizem que a lona apodreceu e o palhaço levou o que restou do circo. O dinheiro que foi pro ralo da maracutaia esquerdista daria, à época, para tombar o Cine Teatro Éden.
Antônio Luiz Martins (AL Martins) É artista multimídia, com quatro décadas de atividades culturais e artísticas no Brasil e exterior, desenvolvendo muitos trabalhos de design gráficos, para renomados artistas, filmes premiados, documentários, músicas de grande sucesso nacional e exposições de artes plásticas.
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