ORIGEM DO MUNICÍPIO DE IPIAÚ
O Sertão da Ressaca, área compreendida
entre a margem esquerda do rio Pardo e a direita do Rio das Contas[1], começou a ser desbravado, em fins do século XVIII, através
das atividades de João Gonçalves da Costa e seus descendentes. É a partir daí
que serão produzidos os primeiros registros sobre o devassamento das terras
onde atualmente está localizado o município de Ipiaú.
Era o Sertão da Ressaca um [...] dos focos mais
ativos de expansão de conquista de novas terras, graças à importância econômica
da pecuária [...]. É a partir desse novo pólo econômico que vamos compreender o
processo de devassamento da área que circunda Ilhéus e que, diferentemente do
ocorrido com a grande maioria das vilas litorâneas, se iniciou a partir
das terras interioranas ou dos sertões.[2]
São os caminhos do gado que definirão os
primeiros contornos da região, durante os séculos XVIII e XIX, provocando um
lento, mas crescente, povoamento, permitindo a integração com o litoral.
Ressalta-se, entretanto, que esse processo de conquista das terras interioranas
ocorre paralelamente ao extermínio físico e cultural dos índios, pois o
desmantelamento dessas comunidades foi a condição sine qua non para a
ocupação do território. Era do interesse do governo português eliminar os
empecilhos da conquista e isso significou, muitas vezes, eliminar índios e
mata. No Sertão da Ressaca, de acordo com Souza[3], é João Gonçalves da Costa o principal responsável pelo
aniquilamento das várias nações indígenas deixando transparecer ímpetos
prazerosos da sua ação contra o aborígine ao dizer- me pulava o coração com o
desejo de os conquistar.[4]. Nessa área, além dos Aimorés, havia os Camacãs, Mongoiós[5]
e os Pataxós, todos alvos de constantes ataques de João Gonçalves da Costa.
Genericamente, estes referidos grupos indígenas ficaram conhecidos como
Tapuias, por se tratarem de povos indígenas que não pertenciam ao tronco
lingüístico Tupi-guarani.
Além das atividades promovidas pelos Gonçalves da
Costa a partir do arraial da Conquista (hoje Vitória da Conquista), a fixação
de José de Sá Bittencourt no latifúndio Borda da Mata, em 1808[6], também viabilizou o desbravamento e ocupação das terras do
atual município de Ipiaú. Esse latifúndio se desmembrou em diversas fazendas,
uma delas foi Fazenda Jequié que se desenvolveu e aumentou a sua
importância. Graças a sua posição geográfica, que a fez se constituir, já
em fins do século XIX em um ponto de apoio aos viajantes, servindo também como
porta de entrada para aqueles que objetivavam ocupar as áreas mais
interioranas, como as localizadas onde atualmente está Ipiaú. É nesse período
que será observado um aumento do trânsito de boiadeiros e tropeiros nas
estradas que passavam pelo território do antigo latifúndio Borda da Mata. É
esse fluxo, aliado às potencialidades de produção do local, que permitirá
entender o povoamento regional. Muitos se fixaram em Jequié, no médio Rio das
Contas, outros seguiram o curso desse rio, instalando-se nas terras do baixo
Rio das Contas, na zona da mata e por toda a redondeza, em busca de melhores
condições de vida e bons negócios. É principalmente através dessa via que
poderá se entender o povoamento das terras do atual município de Ipiaú. E, esse
processo de ocupação é consolidado com a implantação da lavoura cacaueira.
É notório nesse cenário, a ampliação das vias de
comunicação e a ocupação de novas áreas, paralelo ao aumento da demanda por
mercadorias e também da necessidade de viabilizar novas formas para escoar
produção. Era necessário organizar meios que permitissem promover a comunicação
entre os locais, integrando-os econômica e geograficamente. Nesse contexto as
atividades relacionadas ao tropeirismo se tornaram urgentes e concomitantes ao
desenvolvimento regional, sendo observado um aumento do fluxo de tropeiros paralelo
a ampliação dos caminhos e vias secundárias. O tropeiro abastecia as vilas,
povoados e lugarejos com mercadorias mais variadas, desde as utilizadas no
abastecimento (carne, farinha, arroz, feijão, óleo) como também para o uso
geral (ferramentas), bem como produtos importados (tecidos). A intensidade das
trocas proporcionavam uma integração comercial entre regiões anteriormente
privadas desse intercâmbio, possibilitando a diminuição das distâncias,
características de áreas com povoamento disperso.[7] Assim, os caminhos dos tropeiros viabilizaram completar o
processo de ocupação das atuais terras de Ipiaú, principalmente a partir da implantação
da lavoura cacaueira, no fim do século XIX.
Já no início do século XX, em função da expansão
da lavoura cacaueira, no território atual de Ipiaú passa a existir vários
núcleos populacionais, sobretudo próximo às margens do Rio das Contas fazendo
surgir arruados que foram conhecidos por vários nomes. Um deles foi Rapatição,
denominação com várias hipóteses para o seu significado. Segundo enciclopédia
dos municípios, a origem do nome foi devido a uma briga entre duas mulheres, na
qual uma utilizou contra outra um pedaço de madeira em brasa (tição).[8] Outra explicação é que o nome advém duma corruptela do termo
repartição, posto de arrecadação tributária, instalado no local em 1926.
Justifica-se ainda que o nome seja uma alusão a arma repetição utilizada na
região para caça e defesa pessoal.
Outros nomes utilizados para se referir aos
núcleos populacionais, que formaram a cidade de Ipiaú, foram Encruzilhada do
Sul, em referência a fazenda Encruzilhada do Sul de propriedade do comerciante
Italiano o Sr. José Miraglia. Havia também neste local um arruado conhecido por
Fuá.
Esta designação [FUÁ] refletia a desordem local
causada pelo jogo, mulherio e bebida alcoólica. Também apelidada de Empata
Viagem e Quebra Viola, retardava os viajantes que passam nestas paragens e era
ponto de constantes brigas. Presume-se tratar uma contradição de nomes
diferentes, para a atual Ipiaú, numa mesma época. Porém, não devemos incorrer
no equívoco em imaginar tal localidade com base numa estrutura de cidade ou
vila.
Todos esses nomes eram utilizados
paralelamente, dependendo do lugar que se tomava por referência. Esclarecemos
que, nesta época, não estava constituída a cidade. O que havia eram vários
pontos de aglomerações demográficas. Apenas, em 1916 o local, distrito de
Camamu, foi oficialmente denominado Alfredo Martins. Em 1930, quando foi
elevado à categoria de sub-prefeitura, passando a ser chamado Rio Novo. Somente
em 1943, existindo outro município, com o mesmo nome, a denominação Rio Novo
foi substituída por Ipiaú, que na língua tupi significa Rio Novo.
O desenvolvimento econômico do local levou
os seus moradores a reivindicar a emancipação política da distante cidade de
Camamu. Nesse processo de luta emancipacionista ocorreu a elevação à categoria
de sub-prefeitura (ainda anexada a Camamu) e, posteriormente a sua desanexação
de Camamu e vinculação, ainda na categoria de sub-prefeitura, a Jequié,
almejando viabilizar o desenvolvimento do local pela proximidade com a sede.
Finalmente, durante a gestão do interventor Juracy Magalhães, através da lei
estadual 8.725, de 2 de dezembro 1933, Rio Novo é desmembrado de Jequié
passando a categoria de município. A campanha de emancipação política de Rio
Novo, tão pretendida pelos moradores locais, contou com o apoio do Secretário
de Saúde do Estado da Bahia, Alfredo Brito, que possuía propriedades rurais
nesta região.
Autores
da pesquisa e texto:
Albione Souza Silva - Graduado em História - UESC
/ Pós-graduando em Educação, Cultura e Memória-UESB.
Sandra Regina Mendes - Graduada em História -
UESC / Mestranda em Cultura e Turismo - UESC.
Fonte: http://www.informeipiau.com.br/2011/11/01/historia-de-ipiau/ em 15.04.2013 as 10:15h.
Interessante, a história de Ipiaú. O curioso é que se analisarmos a origem das cidades interioranas, tem sempre algo em comum. A história de ocupação das cidades, foi a partir da procura de melhores condições de vida ou negócios. E, sempre levaram vantagens, as áreas banhadas por rios mares e oceanos, isso é histórico. Primeiro a ocupação e posteriormente as lutas de emancipação e depois o desenvolvimento.
ResponderExcluirSão Félix do Coribe-BA
Iranilza
Esta atividade desperta não só conhecer a historiografia das cidades, mas a vontade de conhecer.
ExcluirIranilza Maria Cerqueira